quinta-feira, 3 de março de 2022

 RELAÇÃO SINHÁ E ESCRAVA: INTIMIDADE, SOLIDARIEDADE E HOMOEROTISMO.


Desde sempre, fora e dentro dos livros de história, ouve-se falar sobre uma hostilidade e rivalidade características da relação entre sinhás e escravas. Enfatiza-se a violência empregada pelas sinhás contra as escravas em razão de seus "ciúmes" pelas mesmas estarem sendo "cobertas" pelos seus senhores (como se as relações marido e esposa daquele tempo nas quais as meninas de 12 anos de idade se casavam com os homens de 40 e as de 15, com os homens de 60, até 70, fossem muito apaixonadas...rs). Fazendo  levantamento da literatura de historiadores que ousam enfrentar os saberes históricos cristalizados, como Emanuel Araújo, chego à conclusão que a disseminação do que era, de fato, exceção e não regra, é de cunho ideológico e tem por escopo o ataque milenar ao que hoje denominamos de "sororidade", a rede de solidariedade feminina, essa, também, milenar, a fim de desmobilizá-la e sugar-lhe as forças. O que brota iluminada, nessas pesquisas, é a grande cumplicidade, intimidade e confidencialidade que existia no mundo feminino entre sinhás e escravas (o próprio termo "sinhá" é uma forma adocicada de pronunciar "senhora" produzida pelas próprias escravas). Mas, agora, vamos aonde muitos historiadores não ousam, mas Emanuel Araújo e alguns poucos ousaram: A trivial relação homoerótica entre sinhás e escravas. Essas se davam, não apenas por uma natural inclinação de orientação sexual, mas era propiciada, justamente, pela situação de vida em cativeiro que era comum, mutatis mutandis, a ambas. Exemplos são narrados pelo historiador: Guiomar Piçaro confessara que tivera dos 12 aos 13 anos, experiências sexuais com uma escrava de 18 anos. Como as meninas, geralmente se casavam dos 13 aos 15 anos, não raro, as primeiras carícias de cunho erótico davam-se com as escravas. Começava-se com um cafuné até onde o controle ideológico duvida (ou se esforça por esconder). Maria de Lucena, aos 25 anos, deliciava-se com as escravas da Casa Grande, em particular, com as índias Vitória e Margaída, junto às quais foi flagrada inúmeras vezes em pleno ato "sodomítico". A pena à época era ser queimada e feita "fogo em pó". Mas, o fato é que as oprimidas e adestradas mulheres que assim o desejaram, nem por isso deixaram de "queimar",  fosse nos matagais, nos desvãos, nos becos ou nos quintais. Muito menos de serem íntimas, confidentes e solidárias, apesar do fogo ideológico.



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