terça-feira, 8 de março de 2022

 Sempre que me perguntam: "POR QUE AVANÇA TÃO ASSOMBROSAMENTE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL E NO MUNDO?", a minha resposta é sempre curta e rápida: "PORQUE ESTAMOS ALCANÇANDO O PODER". Ato contínuo, me perguntam: "E POR QUE JÁ EXISTIA A VIOLÊNCIA  ANTIGAMENTE?", a resposta me vem ainda mais fácil: "PARA QUE SEQUER COGITÁSSEMOS ALCANÇAR O PODER". 


Sim, estamos alcançando o poder. Há muito, ainda, por óbvio, a conquistar, os desafios e obstáculos são inumeráveis mas não suficientes para nos deter.


Trago aqui apenas alguns números que são sobremaneira significativos e revelam que estamos escalando o poder econômico, político e social com a força de um tsunami:


As mulheres são maioria no ensino médio em 73% dos municípios brasileiros, sendo a maioria dos estudantes em todas as capitais do país;


As mulheres progridem mais do que os homens na educação, sendo delas o maior número de concluintes em todos os seus graus;


Nos cursos de nível superior, o número de mulheres representa 62,9% do total de concluintes de todo o Brasil;


Pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da USP aponta que o número de mulheres que entram nos cursos de medicina em todo o país é superior ao número de homens desde 2009, sendo que as médicas são a maioria dentre os profissionais com idade inferior a 29 anos;


Na faixa que vai até os 25 anos de idade, as mulheres representam a maioria (64%) dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);


As mulheres também são a maioria dentre aqueles que exercem a arquitetura no Brasil (63, 10%), sendo que em apenas dois estados brasileiros, a maioria é de arquitetos;


O número de mulheres brasileiras que concluem os seus cursos de doutorado no exterior já ultrapassou o número de homens;


Atualmente, as mulheres ocupam 69% dos cargos de Liderança em Comunicação no Brasil;


Na política ainda há muito a conquistar. Em sendo o centro nevrálgico do poder, de onde partem as leis que promovem a igualdade, a luta é desafiadora e renhida. Mas as experiências além de nossas fronteiras nos mostram, sim, que os obstáculos poderão vir a ser debelados.  Em países como Ruanda e Andorra, as mulheres já são a maioria no parlamento. Ainda nessa esfera da vida pública, um estudo publicado pelo Journal of Economic Behavior & Organization apontou que a corrupção é menor nos países nos quais as mulheres têm maior participação no governo. Vamos então, firmes, devagar e sempre, firmes, devagar e sempre...


Se as mulheres são maioria esmagadora em profissões relacionadas às áreas das ciências  humanas, mesmo, nas ciências ditas "duras", aquelas matematizadas, o número de mulheres exercendo profissões como a de engenheira, disparou no país. Números  do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), revelam que a participação das mulheres nas áreas de exatas recrudesceu, aceleradamente, de 2011 até 2016. Os dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) confirmam que o número de mulheres engenheiras registradas, por ano, no sistema passou de 13.772, em 2016, para 19.585, em 2018, um crescimento de nada menos do que 42%!  Ainda, de acordo com o Confea, o número total de engenheiras ativas no Brasil, hoje, é de 196.372. Se, antes, as mulheres apareciam timidamente nas salas de aula voltadas às tecnologias, hoje, as suas presenças pululam e a cada dia é mais expressiva a ocupação de mulheres em cargos de liderança no setor.


No empreendedorismo, o número de mulheres tem crescido aos galopes. Segundo estudo conduzido pelo SEBRAE, no ano de 2017 computaram-se 24 milhões de empresárias contra 25 milhões de empresários, uma diferença tida como pequena para o setor. A ainda melhor nova é que, nos novos negócios, as mulheres superam os homens em quase um ponto percentual, sendo um total de 14, 2 milhões de microempresárias no Brasil. A mulher empresária revela um maior compromisso social, sendo que os negócios ligados à saúde, aos serviços sociais e à educação são, em sua maioria, empreendimentos femininos.  A cada dia 19 de novembro, comemora-se o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino e as brasileiras afirmam que, apesar das adversidades, têm muito a comemorar, uma vez que, além de serem líderes da metade das corporações nacionais, as mulheres empreendedoras têm se mostrado mais ousadas do que os homens empreendedores, já que a inovação está presente nos negócios femininos em cinco pontos percentuais a mais. 


 E o número de famílias comandadas por mulheres deu um salto de 105% de 2001 a 2015 no Brasil! E não estou falando, apenas, de mulheres que criam seus filhos sozinhas sem a contribuição dos ex-companheiros. Nas famílias nas quais há marido e filhos, a chefia feminina subiu 551%! De 1 milhão em 2001 para 7 milhões em 2015! E nas famílias de casais sem filhos, aí que as mulheres se tornaram mesmo as poderosas chefonas das famílias. Nessa última situação, o aumento das mulheres como maiores responsáveis pelo sustento econômico do lar, tornando-se as "chefas" da família teve um salto de 822%! Atualmente, 40% dos lares brasileiros têm as mulheres como seus líderes econômicos e financeiros.


E como para as mulheres nem o céu é o limite, O número de mulheres no comando de uma aeronave no Brasil teve um aumento de 106 pontos percentuais no exíguo "espaço" de tempo de três anos, ou seja, de 2015 a 2018! Já se foi o tempo em que cabia à mulher só pilotar fogão!


Last but not least, mesmo nessa sanha de alguns por sermos exterminadas, existimos em maioria no país. No Brasil as mulheres são 51,7% da população, 52% do eleitorado e enquanto, hoje, a expectativa de vida dos homens é de 73 anos de idade, a das mulheres é de 80 anos.


Ou seja, a violência contra a mulher é proporcional ao incremento de nossas conquistas e é uma reação à desconstrução que temos feito aguerridamente nos núcleos de sustentação do patriarcado.


Mas sinto dizer: Não vai adiantar. Podem aqueles que não suportam dividir conosco o estatuto da igualdade e da solidariedade, continuarem como bestas-feras desatinadas, descompensadas e histéricas no desespero dos que temem conosco compartilhar o poder. 


Podem continuar a xingar-nos,a detratar-nos, a nos vir com palavreados chauvinistas e risinhos nervosos, a apontar-nos facas, a nos mirar com revólveres, a lançar-nos paus e pedras, a estuprar-nos, a denegrir-nos, a difamar-nos e a injuriar-nos. A nossa gana é irrefreável e, juntas, nos multiplicamos e representamos umas as outras.


Podem continuar. É inútil. Digerimos o fel inoculado pela violência transformando-o em sangue que borbulha em vitalidade e força.


Sinto muito, estamos, sim, alcançando o PODER. E preparem-se: Isso é só o começo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário