quarta-feira, 2 de março de 2022

 DUAS POÉTICAS PARA UM MESMO BRASIL 


Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre  e Tristes Trópicos de Claude Lévi-Strauss são  dois livros que tenho lido e cotejado para compreender a genealogia da violência contra a mulher no Brasil. Mas, dos quais tenho sorvido um sabor, também, puramente literário.


A linguagem freyreana é produto direto do próprio fenômeno de que ele trata: a formação da sociedade brasileira. É uma linguagem brasileira por excelência, fruto das mesmas misturas étnicas por ele problematizadas em seu livro. Uma linguagem leve, sensual, muitas vezes deliberadamente erótica, brejeira. Uma linguagem tecida ao sabor do balanço de uma rede, regada a midubim, acarajé e álcool de cana. Já a linguagem de Claude-Lévi Strauss, também  literária,  embora tecida em primeira pessoa como relato de viagem, traz em si ecos de Marselha.


Evidencia-se nas  páginas de Tristes Trópicos que estamos em "intercurso" com um europeu, com a lírica europeia, inclusive. Ao invés do molejo freyreano, a melancolia  claudeana. Ao invés da literatura feita em carne, a literatura que amanhece entre a vigília e o sonho feito miragem.


São duas antropologias. Duas poéticas. E um mesmo Brasil que merece ser matizado em cores infinitas.




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