Sobre um Amanhã Possível
Há muito pouco a dizer e muito a sofrer.
Chegamos a um paroxismo. O estupro deixou de ser crime no Brasil. Folheio o Código Penal e o encontro entre os crimes hediondos. A reforma do Código Penal em 2009, ampliou-lhe o espectro, tanto quanto aos sujeitos, quanto ao objeto. No entanto, o que vemos é uma total disruptura entre o normativo e a realidade. Se antes, o estupro era um dos crimes de mais difícil prova, crime este praticado intramuros onde só o sabiam o autor e a vítima, hoje, não apenas é perpetrado coletivamente, como é ostentado por seus autores, alardeado em praça pública, até onde os olhos sobre essa praça virtual podem alcançar.
O que nos aconteceu, onde está o nosso elo perdido entre a dignidade e a indignidade humana?
Há menos de uma semana, estava me lembrando do caso Eloá em São Paulo, da menina que foi cruelmente morta por seu namorado que a mantinha em cativeiro. Os grupos de defesa dos Direito Humanos chegaram até lá. Não para defendê-la ou para livrá-la da morte, mas para livrar o rapaz de ser morto.
Qual política de direitos humanos tem sido historicamente implementada, de fato, às mulheres nesse país de modo que, ao propor-se a defender a vida de alguém, arrisca-se a vida da vítima e esforça-se a defender a vida do algoz? A quem serve esse direito penal mínimo que tanto defendemos e que em relação aos crimes contra a mulher, deixa de ser mínimo e passa a ser inexistente?
De onde vem tanta misoginia e tanto ódio?
Se o virtual possibilitou o gesto medonho de ostentar e compartilhar o crime, também nos possibilitou enxergar a realidade da forma mais incontroversa possível. Não cabe mais dizer "ela é louca e está inventando essa história". Afinal é sempre o que resta a dizer da mulher ao narrar ser vítima de um crime sexual : "Ela tem mente fértil e está querendo prejudicar um homem".
Sei que a dor nos paralisa e que aos solavancos falamos em luta quando estamos todas de luto.
Algo está irremediavelmente morto em nós. E esse algo é imenso.
Que imenso nos seja também o amanhecer que ainda nos promete um amanhã.
Chegamos a um paroxismo. O estupro deixou de ser crime no Brasil. Folheio o Código Penal e o encontro entre os crimes hediondos. A reforma do Código Penal em 2009, ampliou-lhe o espectro, tanto quanto aos sujeitos, quanto ao objeto. No entanto, o que vemos é uma total disruptura entre o normativo e a realidade. Se antes, o estupro era um dos crimes de mais difícil prova, crime este praticado intramuros onde só o sabiam o autor e a vítima, hoje, não apenas é perpetrado coletivamente, como é ostentado por seus autores, alardeado em praça pública, até onde os olhos sobre essa praça virtual podem alcançar.
O que nos aconteceu, onde está o nosso elo perdido entre a dignidade e a indignidade humana?
Há menos de uma semana, estava me lembrando do caso Eloá em São Paulo, da menina que foi cruelmente morta por seu namorado que a mantinha em cativeiro. Os grupos de defesa dos Direito Humanos chegaram até lá. Não para defendê-la ou para livrá-la da morte, mas para livrar o rapaz de ser morto.
Qual política de direitos humanos tem sido historicamente implementada, de fato, às mulheres nesse país de modo que, ao propor-se a defender a vida de alguém, arrisca-se a vida da vítima e esforça-se a defender a vida do algoz? A quem serve esse direito penal mínimo que tanto defendemos e que em relação aos crimes contra a mulher, deixa de ser mínimo e passa a ser inexistente?
De onde vem tanta misoginia e tanto ódio?
Se o virtual possibilitou o gesto medonho de ostentar e compartilhar o crime, também nos possibilitou enxergar a realidade da forma mais incontroversa possível. Não cabe mais dizer "ela é louca e está inventando essa história". Afinal é sempre o que resta a dizer da mulher ao narrar ser vítima de um crime sexual : "Ela tem mente fértil e está querendo prejudicar um homem".
Sei que a dor nos paralisa e que aos solavancos falamos em luta quando estamos todas de luto.
Algo está irremediavelmente morto em nós. E esse algo é imenso.
Que imenso nos seja também o amanhecer que ainda nos promete um amanhã.
Andrea Campos
Sobre o Caso. Via Jornal O Globo:
Na última quarta-feira,25 de maio de 2016, um vídeo postado no Twitter mostrava uma jovem de 16 anos sendo abusada sexualmente por um grupo de homens. A publicação foi feita por um dos mais de 30 agressores que estupraram a menina. A polícia já identificou quatro dos criminosos.
A jovem passou por exames no Instituo Médico Legal e foi ouvida na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). Ela contou que ficou desacordada e, quando despertou, se deparou com os bandidos em cima dela.
A notícia ganhou as redes sociais e impulsionou campanhas contra o estupro. Internautas trocaram as fotos de perfil e compartilharam imagens que denunciavam o problema, caracterizado como uma questão cultural. O crime ocorreu na Zone Oeste da cidade do Rio de Janeiro, Brasil.