quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A Burca e O Fio Dental



Ofertamos a nossa imensa solidariedade às mulheres em todo e qualquer regime totalitário, especialmente às do  Afeganistão, um dos países mais perigosos do mundo para as mulheres quando sob o poder de um fundamentalismo religioso que instaura um regime patriarcal conservador ultrarradical a destilar ódio misógino. Mas o espanto na Terra Brasilis com as suas condições como se essas nos fossem totalmente estranhas, revela mais uma vez a imagem distorcida e alienada que temos de nós mesmos, nós, esse povo cordial que ocupa um  dos pináculos mundiais da violência de gênero.


Nessa Terra Brasilis em que o feminismo é apedrejado por homens e mulheres e ainda estamos em plena luta pela igualdade e autodeterminação de nossas vidas e de nossos corpos. 


Nem parece que até 2003 no Brasil, por Lei,  se o homem descobrisse que havia se casado com uma moça já "deflorada", poderia anular o casamento e "devolvê-la" ao seu pai. 


Nem parece que em 2009 na maior cidade do Brasil, uma jovem estudante de 20 anos foi vandalizada e fisicamente agredida por seus jovens colegas dentro de uma Universidade por vestir uma minissaia.


Nem parece que até a década de 60 no Brasil, por Lei, a mulher casada tinha a mesma capacidade jurídica dos índios e pródigos e só podia prestar queixa na delegacia acompanhada do marido.


Nem parece que até a década de 70, as mulheres, em sua franca maioria, chegavam no máximo aos cursos de magistério, dos quais saíam para o grande objetivo de suas vidas: casarem-se e serem mães e esposas.


Nem parece que apenas na década de 90, as mulheres casadas das classes médias e altas passaram a ocupar significativamente o mundo do trabalho, uma vez que antes disso,  às vésperas do século XXI, a justificativa de seus maridos para que elas ficassem restritas ao espaço doméstico era a de que elas "não precisavam" trabalhar. E que essa justificativa ainda hoje é corrente em muitos casamentos.


Nem parece que, também, até a recente década de 90, as mulheres aprovadas nos concursos para Juiz em Pernambuco não tomavam posse porque a menstruação afetaria os seus bons juízos nas sentenças.


Nem parece que o Brasil é o país com maior número de trabalhadoras domésticas do mundo, que um quarto das mulheres que trabalham fora de suas casas no Brasil são trabalhadoras domésticas e que nem a Constituição Cidadã de 88 equiparou o trabalho doméstico às demais categorias profissionais (a equiparação jurídica apenas aconteceu em 2015).


Nem parece que no Brasil há milhares de mulheres no campo e nas cidades que trabalham em condições análogas às dos escravos e vivem em um confinamento cujas condições materiais e familiares, certamente, são piores do que o das mulheres afegãs.


Nem parece que rotineiramente acompanhamos casos de meninas de menos de onze anos de idade que são estupradas e engravidadas por seus pais ou tios e das que sofrem estupro coletivo.


Nem parece que quando essas meninas estupradas e engravidadas vão fazer o abortamento legal, uma multidão de extremistas (que são base do atual Governo, inclusive) fazem cerco ao hospital chamando-as de assassinas e ameaçam as suas integridades físicas.


Nem parece que ainda hoje, nas barras da Justiça no Brasil, mulheres vítimas de violência sexual e doméstica são revitimizadas por advogados, juízes e promotores em plena sala de audiências.


Nem parece que o Brasil é, atualmente, o quarto país do mundo em números  absolutos de casamentos infantis de meninas, e o quinto país do mundo em número de feminicídios, onde a cada sete horas uma mulher é assassinada pelo fato de ser mulher.


Nem parece, nem parece...


Ah, mas as feministas que lutaram e ainda lutam por mudar essas situações são umas "feminazis"... Abaixo o feminismo!


O fato é que na terra do fio dental, a burca nunca deixou de estar à nossa espreita...

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

 BOLSONARO E A ESTÉTICA DO MACHO


Muito se tem debatido sobre figuras masculinas como Bolsonaro e Trump como resgate da macheza perdida, da masculinidade ameaçada por uma estética que acolhe a diversidade e aponta para uma eventual tibieza da virilidade. Lembrando-nos que o conceito de virilidade para os gregos menos do que dizer respeito à força bruta, refere-se ao autocontrole, ao equilíbrio, à temperança e ao bom governo de si e dos demais.


Diante dos movimentos de ultra-direita em nossa história recente e os seus reclames pela recuperação do macho "vintage", vozes lúcidas como a da jornalista americana Susan Faludi, desmascararam a propaganda enganosa daqueles que se arvoraram como a encarnação do macho-paraíso-perdido, Trump e Bolsonaro como uns de seus exemplares.


Segundo Faludi, o macho "perdido", seria aquele que ajudou a reerguer o mundo após o débaclé de 1929, é aquele que livrou o ocidente do alastramento da sombra nazista e fascista na Segunda Guerra Mundial. É o homem trabalhador, protetor de sua família, salvaguarda de sua comunidade. Jamais teria equivalência com um exemplar que desencoraja o uso de máscaras durante uma pandemia ou que expressa não se importar com o número de "baixas" do povo que governa, usando um termo caro aos que constroem a estética de sua macheza sobre signos e significantes militares. O macho dos nostálgicos, muito pelo contrário, é aquele que deu a sua vida e a de seus filhos lutando na guerra pelo seu país, é aquele que lutou no seu país para salvar a sua família da fome.


Figuras como Bolsonaro e Trump, portanto, na contra-mão do macho guerreiro e protetor seriam representantes do macho "Ornamental". Aquele que menos do que promover traços que seriam próprios da masculinidade, não são mais do que suas caricaturas. Que se apresentam em uma estética que de tão estudada, ensaiada e narcisista poderia se dizer que seriam o oposto do que os gregos definiam como um homem viril: ao invés de conscienciosos e equilibrados, homens histéricos e afeminados.


Sim, a masculinidade de Bolsonaro é histérica e antes de ser um macho pré-histórico, ele é um macho infantil. Engatinhando no repertório vocabular, como um menino mimado, faz da Esplanada dos Ministérios  um tabuleiro para brincar de Front. Poderíamos até mesmo caracterizar o seu caráter de naïve se não fosse, aberrantemente, tão mau caráter. Em claro "backlash" a movimentos que contrariam os seus interesses,  ao promover um desfile de tanques de guerra na Capital Federal, postou-se ornamentalmente diante de "seu" palácio, assumindo de uma vez por todas não a estética do macho-alfa, mas a patética atuação do Macho-Palhaço.


E acabando por ser, para além da caricatura de masculinidade, uma caricatura sequer risível, mas enfadonha de si mesmo.


Esforçando-se por demonstrar força através de tanques-colhões flácidos e canhões nada viris, o macho caricatural expôs a Nação a um vexame internacional.


Os Machos Brasileiros não mereciam isso...

domingo, 1 de agosto de 2021

 MÃE É MÃE?




Inobstante o horror despertado pelo crime bárbaro e medonho praticado pelo vereador bolsonarista ligado às milícias, defensor da família e contra uma propalada "ideologia de gênero", o antimédico "Dr. Jairinho", o desamor de sua companheira por seu próprio filho, ou melhor, pouco amor, sobrelevando-se seus interesses materiais e ambições sociais, tem chocado tanto ou até mais do que a morte da criança em si.
A sacralização do amor materno é um fenômeno recente, pós-era industrial. Nas sociedades pré-capitalistas, as crianças eram entregues a mulheres, geralmente, camponesas, para que as amamentassem e as fizessem vingar em seus primeiros anos. O próprio Santo Agostinho dizia ser as crianças o que havia de mais próximo ao pecado original, o seu sintoma e expressão mais diretos. Crescer e ser educado, significaria ser purificado e catequisado em um movimento contrário àquele prognosticado por Jean-Jacques Rousseau.
Quando não afastadas das mães na distância de muitos horizontes, as crianças, no mais das vezes, eram criadas por uma família estendida. Na medida em que a sociedade se aburguesou e o capitalismo avançou, as famílias se tornaram mais e mais nucleares, restritas a um casal e os seus filhos. Se o pai deveria, desde sempre, ser o provedor material, as responsabilidades com a criação, cuidados e educação das crianças concentraram-se na figura materna que, por sua vez, sacralizou-se, valorizou-se, naturalizou-se a fim de que as mulheres assumissem esse mister com resignação e até mesmo, passassem a ambicionar assumi-lo a fim de angariar respeito social e, também, poder.
Diversamente de uma sociedade de viés comunitário, com a presença de um Estado social no qual a função materna é desconcentrada da figura exclusiva de uma mãe, quanto mais uma sociedade é neoliberal e o Estado é mínimo, mais central e estruturante é o lugar da mãe e a sua função social. O efeito perverso ocorre quando essa mãe forjada em uma ambiência neoliberal de materialismo predatório enxerga na criança, não uma fonte de exercício de poder e autovalorização, mas de empecilho no seu afã de galgar status e alargar as suas possibilidades de consumo. Mais ainda se esse poder aquisitivo e ascensão social são possibilitados não pelo pai da criança, mas por um outro homem. A partir desse ponto dramático e perverso de inflexão, a criança passa a ser um estorvo, não mais causa de exercício de poder , o poder conferido pela maternidade.
Antes de, simplesmente, patologizarmos uma mulher como a Monique, devemos reconhecer que "mãe, não necessariamente, é mãe", aquela do amor incondicional, e que ser mãe, historicamente, foi ambicionado pelas mulheres menos em razão de amor do que por aquisição de poder. Mais ainda quando se trata de dar filhos e descendência a um homem de poder e posses. Em uma história humana na qual o exercício de poder feminino sempre foi residual, acentue-se. Isso, claro, não justifica uma mãe ser conivente com a morte e a destruição de seu próprio filho, mas é o paroxismo dessa lógica. Que o digam as mulheres e concubinas dos Faraós. Que o digam as mulheres que acompanhamos diariamente, as que silenciam os abusos sofridos por seus filhos e filhas a fim de manterem ao seu lado um homem e as benesses por este propiciadas.
Aceitam-se desamor e abandono de pai, mas sem a segurança de um eventual "natural e sagrado amor de mãe", a sociedade se desestabiliza. Ainda mais naquelas onde há pouca presença do Estado oferecendo os bens públicos (saúde, cuidados e educação), pois nesses casos, como já falamos, a mãe substitui o Estado e se a mãe falta, a estrutura social desmorona.
O que causa terror nessa história macabra, portanto, não se restringe à atrocidade cometida pelo vereador, e a dor que sentimos pela vida interrompida de uma criança linda, carinhosa e cheia de vida.
O que nos causa ainda mais pavor´é testemunharmos uma mulher que por mais que amasse o seu filho, não o tinha como uma prioridade. Uma mulher que arriscou a morte de seu filho e a sua própria morte como mãe a fim de satisfazer as suas ânsias de status e de poder quando, para ela, ser mãe não era suficientemente sagrado nem meio para satisfazer as suas ambições (eis um dos efeitos perversos do neoliberalismo).
O que nos amedronta é que uma mulher arriscar a morte de seu filho e a sua morte como mãe, anuncia a nossa própria morte como sociedade.
*
Pintura: Michelângelo. Detalhe da cena do "Dilúvio" no forro da Capela Sistina.

 O CASO GUGU-ROSE MIRIAM OU O "OCASO DA IMPORTÂNCIA DA MATERNIDADE NA CONTEMPORANEIDADE".



Com alguma perplexidade e muitas interrogações, tenho acompanhado o caso "Gugu-Rose Miriam", não porque me interesse pela vida de nenhum deles, uma vez que sobre eles sempre tive total desconhecimento, mas porque visualizo, nesse caso, um fato emblemático a sinalizar para o atual lugar da mulher na família e para a importância da maternidade na contemporaneidade. Gugu e Miriam tiveram vida em comum durante 20 anos. União duradoura, pública e estável da qual frutificaram três filhos. Declaravam-se ser uma família e como uma família eram alardeados pelos meios de comunicação. Ocorre que Augusto Liberato veio a falecer precocemente, aos 62 anos, morte essa que se deu fatidicamente sob os olhos da companheira Rose, em sua casa em Orlando, EUA. Uma vez lido o testamento de Gugu, verificou-se que Rose Miriam não havia sido por ele contemplada, tendo sido preterida pelos sobrinhos do apresentador.

Quanto à herança, Rose sequer seria uma herdeira de Gugu, uma vez que a esta tem sido negada o status de companheira em uma União Estável. E o que se entende por União Estável? O art. 1.723 do Código Civil Brasileiro, assim a define: "É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família".

A grande celeuma, atualmente, residiria no questionamento de que Gugu e Rose não teriam intenção de formar família. De que ela teria sido contratada "apenas" para gerar seus filhos, educá-los, acompanhá-los em viagens e dedicar a sua vida, com exclusividade, ao Gugu, tendo abandonado o exercício da profissão de médica a fim de bem cumprir esse mister. O que ocorre é que na acepção de família para aqueles que negam à união de Gugu e Rose o status de União Estável, deve constar inextricavelmente a prática de relações sexuais, o vínculo erótico, aduzindo-se estar o mesmo ausente dessa controversa relação. Ou seja, há comunhão de vidas há duas décadas, há geração de filhos, há dedicação exclusiva, mas não há família, por não haver sexo marital. E por não haver sexo marital, vida erótica entre o casal, não tem Rose direito algum a ser herdeira. Isso me faz pensar na história das famílias e constato que durante milênios, o vínculo erótico-afetivo entre as partes de um casal foi de uma ausência eloquente, inclusive seria um mal familiar indesejado.

Na família grega, por exemplo, caberia à esposa a honrada função de reprodutora e educadora da prole, assim como de administradora privilegiada do lar. Famosa é aquela acepção de Aristóteles para o qual a mulher seria apenas um compartimento no qual o homem colocaria a sua semente a fim de germinarem seus filhos. A vida erótica e afetiva dos homens, o "eros" era encontrado fora do casamento, fosse nas relações com rapazes, fosse ao frequentar as cortesãs. As esposas que se mostrassem vocacionadas para uma vida erótica, poderiam ser repudiadas. As paixões, as práticas eróticas eram, no mais das vezes, adulterinas. São alardeados os lençóis perfurados utilizados durante a Idade Média até o século XIX, nos leitos conjugais, para que o casal não tivesse encontro de peles, mas, tão somente houvesse a penetração intra-vagínica.

No entanto, a ausência de erotismo e paixão não era um capitis deminutio, uma diminuição para a mulher, muito pelo contrário, a ela caberiam todos os direitos, uma vez que era a alta responsável pela geração e criação dos novos cidadãos e soldados para a pólis. Nas sociedades agrárias e mesmo nas posteriores sociedades urbanas, a maternidade continuaria a desfrutar de um lugar privilegiado, pois era através dela que seria gerada mão-de-obra, quer fosse para as atividades rurais, quer fosse para os postos de trabalho no comércio e na indústria. Jamais seria questionado o lugar de uma mulher na família e na união com um homem pelo fato de ela "apenas" gerar e educar os seus filhos e com ele conviver com dedicação exclusiva, mas com ele não ter uma vida erótica. Esse questionamento na atualidade nos leva a verificar um claro desvalor pelo qual passa a maternidade na contemporaneidade. Não a maternidade e a vida em comum, mas a vida erótica, essa sim é que é um fator determinante para que ali esteja uma família e ali se considere um casal. As razões desse fenômeno de desvalorização da maternidade podem ser facilmente observados para os que o quiserem ver. O incremento populacional e a crise alimentar, o esgotamento das agendas estatais para atender a demandas como creches, saúde e educação, os custos da gravidez de uma empregada para as empresas privadas, a diminuição da produtividade profissional de uma mulher e a queda de sua contribuição para a economia em decorrência de uma gravidez demonstram os impactos atuais da maternidade para o mundo da economia e do trabalho, assim como para a gestão dos recursos públicos.

Se antes, ser mãe era contribuir para a produção de riquezas, hoje, ser mãe pode representar um peso social e um entrave a ser suportado por toda a sociedade. Isso poderá mudar com a crise previdenciária, mas, por enquanto, a maternidade tem experimentado a sua valorização em queda abismal. Não se cobra, hoje, de uma mulher, ser mãe, mas sim, ter uma carreira, uma vida profissional, um bom poder aquisitivo, consumir e pagar em dia os seus impostos e as suas contas. Ser útil à sociedade através de sua atividade profissional. E isso, a nossa Rose não o fez. Pelo contrário. Abandonou a sua carreira e passou a ser absolutamente dependente financeiramente de um homem a fim de dar-lhe filhos e criá-los. E se com ele não tinha vida sexual, sequer pode ser considerada a sua companheira. O que antes glorificava uma mulher, o exercício da maternidade, hoje é apenas um detalhe, insuficiente, inclusive, para a constituição de uma família.

No entanto, a despeito da validade dessa análise da desvalorização da maternidade na contemporaneidade e da, correspondente valorização da produtividade profissional da mulher, assim como a insuspeitada atual supremacia da vida erótica sobre a maternidade como fonte de determinação de existência de vida conjugal, penso que, no caso Gugu-Rose, um valor maior se alevanta. Um valor representado pelos 800 milhões de reais a serem partilhados em sua herança. Não importa o quanto ela tenha contribuído para o equilíbrio e bem-estar de Gugu a fim de aquinhoar essas milhares de moedas. Nunca terá sido o bastante. Apenas a maternidade não alcança a importância desse valor.

Tivesse Gugu tão somente uma casa modesta de praia e um apartamento de três quartos em um bairro de classe média, opino que essa discussão sequer existiria. Rose Miriam já teria sido há muito reconhecida como sua companheira, a União Estável seria incontroversa de direito e de fato e eu não teria feito quaisquer reflexões sobre esse assunto e nem escavado a minha memória até Aristóteles e quebrado a minha cabeça com as políticas populacionais chinesas.

Mas, o que estão em jogo são 800 milhões de reais. E diante de 800 milhões de reais, não há quem de uma mulher se compadeça e nem maternidade que resista.

 OS JOVENS SÃO HOJE MAIS CONSERVADORES, TRADICIONAIS E "PRÓ-SISTEMA" DO QUE NUNCA?

A juventude sempre foi identificada, ou até bem recentemente o era, como a idade da rebeldia, aquela na qual se quer mudar o mundo, na qual o sujeito se sente potencializado para invadir as estruturas, remodelá-las, desconstruí-las, extirpá-las. Não à toa, na década de 50 povoou as telas o filme intitulado "Rebeldes sem Causa" estrelado pelos icônicos James Dean e Nathalie Wood, também protagonista do disruptivo "West Side Story". "Hay Gobierno? Soy Contra!" era o lema inconteste dos jovens de espírito livre, contestador e idealista.
Não importa se na meia-idade, premido pelas necessidades de sobrevivência, esse jovem proto-revolucionário tivesse se rendido ao modelo e se tornado "casado, fútil, quotidiano e tributável" nas palavras definitivas do poeta Fernando Pessoa. O mais importante, inclusive para o aperfeiçoamento do próprio modelo, era que esse jovem houvesse, em algum momento de sua vida, desafiado o status quo e, sim, de algum modo contribuído para as suas transformações e realizações de ideais de justiça, bem-estar e igualdade.
Por óbvio que há honrosas exceções. Há jovens, sobretudo, mulheres como Malala Yousafzai e Greta Thunberg que têm, belamente, demonstrado o poder de enfrentamento da juventude. E elas são reconhecidas. Mas, reconhecidas pelo mundo adulto, bem menos pelos jovens, seus semelhantes. Elas não têm milhares de "seguidores" e emuladores, não são "influencers", não mobilizam o grosso da juventude. Não há mocinhas se esforçando por imitá-las, para ser "como elas". Ocupam o lugar quase de "excentrismo".
Ao pensar sobre a esplendorosa Josephine Baker, bailarina, cantora, performer, espiã na segunda guerra mundial, colaboradora da resistência e ativista dos movimentos civis contra o racismo ao lado de Martin Luther King, refleti qual seria a sua congênere nos dias que correm, qual mulher negra americana hoje teria o seu mesmo poder de "influência" e admiração nos dias atuais. E, me deparei com Kim Kardashian, uma socialite que vive da propagação de sua imagem de modo autotélico, aquele que não tem nenhuma outra finalidade que não seja a consagração de si mesma. Não é sequer uma grande artista, consegue, até mesmo, estar à margem do que se entende como a tradicional "indústria cultural" ou "cultura de massas" capitalista burguesa, uma vez que não produz qualquer produto cultural que não seja a sua própria imagem a referendar a aquisição de produtos e recrudescimento do capital circulante. Capital circulante que tem por destino o bolso de poucos, diga-se de passagem. A última notícia que saiu dela foi a de que foi reprovada pela segunda vez consecutiva na BAR, a OAB americana... Inobstante, esse histórico, Kim Kardashian e suas pareceiras, que vivem do nada fazer, mas sim de tudo promover e vender, apenas exibindo as suas imagens, são os ídolos mores da juventude atual com milhares e milhares de seguidores, com milhares e milhares de jovens que "sonham" em ser como elas.
Não estou aqui, fazendo apologia à geração Woodstock, à Contracultura ou o que quer que seja, esses foram projetos disruptivos de juventudes pregressas, que mais do que promoverem shows de rock, foram forças motrizes de transformações, tais como os novos modelos reprodutivos e familiares. A partir do movimento hippie, a juventude, de então, acelerou o desenvolvimento das pílulas anticoncepcionais, propugnou por uma maior igualdade de gênero, em boa medida conquistada, e pela defesa do meio ambiente através do culto à natureza. Em nosso país, a conquista da supremacia da democracia teve uma contribuição fundamental dos movimentos estudantis e de jovens que chegaram ao paroxismo de oferecerem as suas vidas para que pudéssemos gozar do Estado ainda democrático no qual vivemos hoje...
Mais uma vez: Não falo em repetições, mas nos projetos da juventude para o mundo, HOJE!
Ou a juventude se esgotará apenas em consumo, imagem, alienação, manutenção dos (des)valores burgueses, nutrição do sistema capitalista e acomodação aos costumes tradicionais?
Para se "conservar" uma perspectiva de futuro, é preciso revolucionar o presente e não ser "conservador" no presente, o que os jovens têm sido mais do que nunca. Espero que a juventude logo desperte dessa parresia e, já que falam tanto em "lugar de fala", saiam desse lugar de mudez transformadora que nunca foi o dela...

A bailarina e ativista Josephine Baker

A influencer Kim Kardashian


JOVENS ADULTOS: QUANDO É HORA DE TIRAR A CHUPETA?




O que significam as recentes fotos, estampadas na mídia, com adultos chupando chupeta? É preciso respirar fundo para continuar a tratar do tema...
Já havia ouvido falar sobre as dificuldades de se "tirar a chupeta" de uma criança que não mais é um bebê, mas o problema parece ter chegado a um paroxismo nas novas gerações que acusam sentirem "vergonha alheia" das antecedentes, alcunhando-as de "cringe". Jovens dessa mesma geração estão fazendo uso de chupetas, fraldas e mamadeiras, além de infantilizarem as suas linguagens, a fim de se "terapeutizarem" e enfrentarem medos, dores e traumas. Dentre esses jovens de chupeta estão "influencers" com cerca de 300.000 outros jovens seguidores no Instagram.
Para iniciar o debate, parto do princípio de que todos nós das gerações anteriores, pais, mães, educadores, professores, sociedade, temos responsabilidade direta nesse fenômeno que me parece resvalar na "distopia"...
O que podemos, de imediato, inferir é que aquele que se apega de forma ferrenha ao sempre "novo", também apresenta forte recusa ao amadurecimento e à assunção de responsabilidades. Fica fácil, então, entender porque é "cringe" para a nova geração, pagar boletos.
Vamos, então, agora, tentar compreender o que leva essa nova geração a ter tanta dificuldade em integrar o mundo adulto, chegando ao ponto de usarem chupeta para se terapeutizarem e no que, também, temos nisso, responsabilidades. Apresento algumas hipóteses:
1. Uma criança não amadurecer pode ser diretamente proporcional à recusa de seus pais, também, em amadurecerem. Como ser adulto se a mãe insistir em ser eternamente "adolescente"? Sabemos que a geração Y (1980-1996), pais da geração Z, é considerada a geração "selfie" por excelência e com grandes dificuldades de emancipação financeira e emocional, muito decorrente da própria crise econômica das últimas décadas. Ou seja, se os pais na faixa dos 35, 40 anos, continuam dependendo de seus próprios pais, apresentando comportamentos adolescentes, natural que os seus filhos não tenham saído da chupeta aos 15 e aos 20 anos... (Penso naquele bordão das gerações X e Y "Lute como uma Garota". Sempre o rejeitei! Ora, "Lute como uma Mulher!"
2. Pais e mães de 35 a 40 anos, ou mais (havendo muitos exemplos, também, na geração X, na dos que nasceram entre 1965 e 1980, a chamada geração MTV) que insistem em continuar na adolescência, podem, inconscientemente, desautorizarem seus filhos a amadurecerem. Se os filhos, aos 15 ou 20, continuam imaturos como bebês, os pais, por sua vez, continuam como os eternos teenagers aos 35, aos 40, aos 50 anos (não amadurecem). O fenômeno é antigo, não diz apenas respeito às gerações mais recentes, e faz lembrar-me de um conto de Machado de Assis, no qual uma senhora, no afã de ser uma eterna jovenzinha, não podendo evitar o casamento da filha, o que a envelheceria, ao se tornar avó, passa a ocupar o lugar da maternidade da filha, assumindo a neta como se seu "bebê" o fora. Sustento, portanto a hipótese, de que, no fenômeno atual, a dinâmica se dá de forma mais perversa, uma vez que os pais aferrados, também, em suas imaturidades, insistem que os seus próprios filhos de 20, continuem como bebês, assim, eles não "envelhecem" e não enfrentam a vida adulta... Ou seja, os próprios pais passam mensagens aos filhos para que não amadureçam a fim de que eles mesmos continuem imaturos (Deixo claro que todo esse processo, no mais das vezes, se passa a nível inconsciente).
3. A necessidade de "regressão à infância" de forma tão escancarada revela um grande sentimento de desamparo e vulnerabilidade. Digo "escancarada", porque é natural eventuais retornos, aquilo que dizemos como o que há de "eterna criança" em nós. Ter filhos não deixa de ser uma forma de revivenciar a infância, no entanto sem se tornar, novamente, uma criança. Jovens de 18, 20 a 25 anos tendo a precisão de usar chupeta denunciam um desamparo tal que nos remete a prováveis experiências de abandono na infância. Volta-se à infância a fim de serem resgatadas por aqueles que os abandonaram. Que os abandonaram afetivamente, emocionalmente. Que os abandonaram porque não foram adultos o suficiente para criarem novos adultos, para os autorizarem a serem adultos. O psicanalista Contardo Calligaris sempre dizia "Preste sempre atenção em qual é o desejo das mães: os filhos tendem a se esforçarem por corresponder-lhes".
4. Pais consumistas e materialistas que se recusam a amadurecer, tendem a terem filhos também consumistas que se recusam a sair da mamadeira e das fraldas.
5. Isso para a sociedade capitalista e a cultura do consumo é interessantíssimo, mais do que "uma mão na roda", uma mão em suas engrenagens, uma vez que são os mais jovens, os mais suscetíveis e facilmente capturados pela ânsia de aquisição de produtos de forma inadvertida e acrítica, apenas com o condão de se sentirem integrados e "aceitos". Consumir determinados bens, mesmo que supérfluos e dispensáveis, pode lhes garantir uma sensação de autovalorização e conforto emocional. Para o capital, isso é ainda melhor pelo fato de que essa sensação é sempre transitória, urgindo-se então, que haja mais e mais consumo através da sacralização do "novo" e rejeição imediata ao "velho", ainda que o velho seja um novo recente. Manter a necessidade do novo e a forte rejeição ao "ultrapassado", é primordial para o azeitamento e funcionamento "non-stop" da máquina consumeirista.
Muitos dessa geração largada às telas dos celulares e outros "gadgets", que xingam seus pais e outros mais velhos de "cringes", para além de serem reféns do consumismo, provavelmente, estão exercendo o sabor da doce "vingança", uma vez que os bens materiais nunca serão suficientes para compensar os afetos e a segurança que deveriam ter sido propiciadas pelos pais maduros que não tiveram.
Enfatizo que tudo sobre o que discorri são hipóteses a serem confirmadas ou negadas. Mas, algo é certo: devemos pagar o nosso quinhão no que contribuímos para essa geração de largados às fraldas e às chupetas. Para os seus sentimentos de profunda vulnerabilidade e desamparo. Sob pena de que os atuais jovens de mamadeira, pulem a idade adulta e aterrissem direto na idade idosa empurrados em carrinhos de bebê.

 "CUIDAR", verbo IMPERATIVO

A Pandemia, mais do que tudo, revelou-nos o quão imperativo é o verbo "cuidar" para a hipótese de pretendermos que a nossa espécie humana continue a transitar por sobre o Planeta Terra. No auge das conquistas tecnológicas, em um mundo mais e mais virtual, fomos restituídos, de forma abrupta e impiedosa, à consciência das contingências que atravessam a nossa mais crua animalidade. Se em algum momento nos arrogamos de quaisquer superioridades diante dos demais fenômenos mundanos, fomos lembrados de que não passamos de animais acorrentados às nossas próprias perecibilidades. A Pandemia reafirmou a nossa precariedade e a nossa provisoriedade, condições que são inextricáveis à nossa existência.
Portanto, a fim de aqui permanecermos: É imperativo cuidarmos uns dos outros, é imperativo cuidarmos do meio ambiente, é imperativo cuidarmos dos outros animais, é imperativo cuidarmos de nossa pólis, é imperativo cuidarmos dos nossos saberes, é imperativo cuidarmos de nossa ciência, é imperativo cuidarmos de nossa cultura, é imperativo cuidarmos de nossa linguagem, é imperativo cuidarmos de nós mesmos.
Se assim prosseguirmos, posso enxergar, lá longe, um ser humano em um futuro distante, mas em um futuro pavimentado por nós e por nós possibilitado, na altura de seus 200 anos de idade, lamentar-nos:
"Coitados desses humanos dos anos 2000, que só viviam 80 anos..."




Por que nos limitarmos a modismos contingenciais se a vida é curta e temos pelo menos três mil anos para a nossa inspiração?

Hoje, eu vou de estilo Blanche Monnier, século XIX!
A história de Blanche é, sobretudo, macabra, mas nos informa muito sobre afetos familiares, amores e uniões como fenômenos culturais e não infensos a perversões.
Blanche era uma bela moça da alta burguesia francesa de finais do século XIX. Sua família era conhecida por sua benemerência e filantropia. Em virtude de sua beleza e de seu atrativo dote, havia um séquito de alvoroçados pretendentes à sua mão. Mas, Blanche ousou a maior das transgressões: apaixonou-se e firmou posição de pretender casar-se por amor. Tudo lhe iria favoravelmente se os afetos de Blanche não fossem dirigidos a um advogado que além de ser bem mais velho do que a jovem dama de 25 anos de idade, não havia sido contemplado pela fortuna material: Era de minguadas posses.
Tendo Blanche se mantido firme em seu propósito, a fim de evitar que a filha contraísse as indesejáveis núpcias, a sua mãe enclausurou-a em um sótão onde a moça ficou encarcerada a pão e água por mais de 25 anos sem ver a luz do sol.
Uma vez descoberto o seu martírio, já em estado indigente e terrificante, Blanche passou por um intenso tratamento clínico, internada em um Hospital. Em nenhum momento durante o seu processo de recuperação, foi agressiva, embora tenha sido atravessada por afecções mentais. A sua mãe foi acusada, condenada e presa, havendo sofrido ataque cardíaco fulminante passados apenas 15 dias do início do cumprimento de sua pena.
Blanche viveria mais 14 anos, esses em liberdade, ainda que em um sanatório. A sua repetida frase era: "Como é linda a luz"...

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 EM ALGUM LUGAR DO PASSADO: OU O LUGAR DO IMPOSSÍVEL NO DESEJO MASCULINO






A nossa cultura e as suas ideologizações insistem, de forma equivocada, a atrelar o desejo feminino ao amor idealizado dos contos de fadas e a ancorar o desejo masculino ao real da carne e da racionalidade. Mas, a realidade aponta para a direção contrária: mesmo atravessadas pelas fantasias do príncipe salvático e da história de amor com final feliz, principalmente, após o casamento, as mulheres "caem" no real do amor, enquanto os homens, esses sim, tendem a passar toda a vida devaneando em idealizações amorosas e fantasias eróticas sem limites, ambas alimentadas pelos apelos mágicos do impossível.
São muitos os fatores que conduzem a essa dinâmica em maior e menor grau de acordo com a história erótico-afeita de cada um, mas, o fato é que os homens estão mais capturados pelos mitos dos contos de fadas do que possa sonhar a vã filosofia.
As mulheres são retiradas do mundo do reino das fantasias em virtude de seu próprio corpo que todo mês sangra, atracando-as ao real da terra. Muitas, depois engravidam, dão à luz e nutrem a carne de sua carne com a sua própria carne. Mesmo as que nunca engravidaram, não se livraram de estarem presas ao real do corpo que para uma eventual gravidez se prepara, a cada mês. Já os homens não. Ao contrário do que se pensa, já que seriam mais ligados ao "físico", têm bem menos, o seu desejo atravessado pelo real da carne nua e crua e suas contingências. Somando-se ao biológico, os complexos freudianos não devem ser menosprezados, carregados que são pelas tintas do primeiro amor, esse, por natureza, de impossível realização: a paixão pela mãe.
O menino, então, desde a sua mais tenra idade não apenas idealiza a sua princesa como, sobretudo, idealiza a si mesmo como um intrépido e ousado herói. Um capa e espada disposto às mais atribuladas façanhas, a lutar contra os dragões mais ferozes a fim de alcançar a sua amada impossível que o espera indefesa no alto da torre de um palácio circundado por bestas-feras.
Se esse conto de fadas tende a ter menor apelo para as mulheres, atingida a idade adulta, ou depois atravessado o real da gravidez e do primeiro filho, para os homens esse mundo da fantasia, em alguma medida, é para sempre. Não é por mero machismo que lhes atraem os desafios da "conquista". É que as dificuldades à ela inerentes são o gatilho para que eles possam encarnar as suas fantasias na realidade, vestirem as suas capas de heróis, de destemidos e intrépidos conquistadores dos sete mares. Nessa aventura, mais do que a idealização da dama de difícil acesso, está a idealização do herói de si mesmo.
E esses desafios a serem vencidos pelo nosso herói romântico que têm o alto de uma torre a ser escalada como metáfora, traduzem-se em barreiras sociais, barreiras territoriais, barreiras religiosas, barreiras familiares, barreiras de estado civil (seja o dele como o da princesa) e pasmem! Barreiras do tempo. Não à toa, o conceito de "barra" é tão caro à teoria do desejo em Lacan...
Certa feita, era eu ainda estudante de direito e passeava pelo Alto da Sé, pus-me a conversar com um rapaz que estava às voltas com os seus desejos de amor impossível. Foi, quando então ele quis apresentar-me à sua amada. Mostrou-me a sua foto: ela estava morta. Mas, não estava morta há alguns meses ou até mesmo há alguns anos: Ela estava morta desde o século XIX! Antes de achar que o rapaz fosse louco ou perturbado, apenas tive a certeza de que a alma humana é como o universo: em constante expansão ilimitada. Quase chorei a saudade da morta junto a ele.
O desvario do rapaz, segundo a minha hipótese, nada mais é do que o ponto paroxístico, o ponto mais alto do desejo masculino em suas fantasias heróicas do amor impossível. E como os homens são escópicos, têm o desejo fortemente movido pelo olhar, a possibilidade de deparar-se com a fotografia de uma dama de outros tempos e por ela se apaixonar perdidamente não é conto de fadas: É uma "ameaça" constante.
Uma dessas ameaças foi concretizada e acabou por ter suas angústias resolvidas na escrita de um livro, cuja narrativa foi levada às telas dos cinemas. Passo a contar-lhes o caso. Um escritor americano de ficção, logo, um devaneador por excelência, de nome Richard Matheson, certa feita, deparou-se com uma foto da belíssima atriz, também americana, Maude Adams e logo foi tomado por uma paixão arrebatadora. Tudo seria mais um delicioso capítulo de amor apaixonado, se Maude não tivesse nascido em 1872 e falecido em 1953.
Urgindo desvencilhar-se de sua angústia amorosa e debatendo-se com a sua impossibilidade que a despeito de estimulá-lo era incontornável, o escritor escreveu um romance de seu romance amoroso. Nele, o personagem masculino de seu mesmo nome, Richard, ao deparar-se com a foto de uma bela e outrora famosa atriz em seu tempo e por ela apaixonar-se, toma por obstinada aventura, empreender uma viagem no tempo de modo a ir ao seu encontro e realizar esse amor. Essa empresa passa a ser a única razão de sua vida, perdendo o sentido, todo o resto. O livro foi publicado com o título "Somewhere in Time" e transposta a sua fábula, baseada em um amor real, para as telas, o sucesso foi garantido e atemporal.
Sucesso garantido e atemporal, sobretudo entre os homens, que se identificam com o herói romântico e com os seus impossíveis. E cujo desejo para sempre sonha acordado em ouvir sussurrar de suas camadas mais profundas, a bela de seu passado. Que a despeito dos dragões a serem vencidos, do alto da torre, maviosamente lhe dá a irresistível ordem, para ele, deliciosamente, indemissível: "Come back to me"...