segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

 BBB E VIOLÊNCIAS (DISPUTAS) DE GÊNERO: O CASO YASMIN BRUNET



Apesar de ser uma crítica incontornável de programas como o BBB que se eterniza no Brasil por ser uma das produções mais lucrativas, se não a mais lucrativa da emissora Rede Globo, não pude ficar alheia às reportagens que vem sendo veiculadas na Internet, mais especificamente no site de notícias Uol, acerca dos ataques e polêmicas envolvendo a filha da modelo Luísa Brunet, ícone de beleza e sensualidade no Brasil dos anos 80 e 90 do século passado, quando não existiam nem redes sociais e nem reality shows. 


A filha em questão é a, também, modelo Yasmin Brunet, que Luísa se esforçou tanto para que fosse uma modelo internacional em sua adolescência, que se qualificou (formou-se em Cinema pela New York University), mas que ficou mais conhecida por ter se casado com um famoso esportista. Pois bem, Yasmin, não mais uma jovenzinha encabulada, mas uma mulher plena e exuberante, ressurgiu no fatídico programa, que se não presta a nada, ao menos serve para escancarar a misoginia e as violências que acometem as mulheres no Brasil. Para começar, revela o quanto uma mulher bela no Brasil, mais do que estar em uma posição privilegiada, está em situação de vulnerabilidade. O quanto, mais do que desejo, desperta ódio e inveja e para surpresa geral, bem menos das outras mulheres do que dos...homens! E um deles, imbuído de desejo e ódio ao objeto de seu desejo, tem mirado a moça com artilharia pesada.


Falar que ela é "esquisita", "velha" é o de menos... A violência saiu da crítica ao corpo (pelo agressor desejado e meio de vida da modelo), para o escarnecimento de sua condição psicológica. Tem-se diagnosticado as práticas, sem sombra de dúvidas, machistas, como "coisificação" da mulher. A meu ver, esse diagnóstico é impreciso e superficial. O que estamos assistindo é a uma luta pelo poder. Para além da coisificação, o poder erótico emanado pelo corpo de Yasmin levou o rapaz a agredir não apenas o seu corpo, mas a desdenhar dos seus sofrimentos psíquicos (compulsão alimentar), esperando com isso que o seu corpo se deforme, ou seja, perca o poder que exerce sobre o agressor. O processo todo, portanto, não se trata de mera "coisificação", redução de uma pessoa a coisa, mas de agressão a um corpo vivo (não coisa inanimada), o que, portanto,  inclui a sua anima (alma). A grande questão é como se lida com esse poder erótico exercido por esse corpo feminino: nas sociedades machistas, não com respeito, admiração e autocontrole, mas com violência, já que todo e qualquer poder feminino deve ser aniquilado. Para não se sentir a esse poder submetido e, no caso em tela, humilhado por ser a esse corpo interditado, trava-se uma luta que vai desde agressões verbais e assédio moral (o que está sendo perpetrado contra a moça), passando por agressões físicas e chegando à violência sexual.


Espera-se que as violências contra Yasmin sejam estancadas no primeiro estágio.