quinta-feira, 3 de março de 2022

 A MULHER QUE SE MAQUIASSE OU ANDASSE SOBRE  SALTOS ALTOS  PODERIA SER CONDENADA À MORTE NA CIDADE IDEAL (NA OBRA  "A CIDADE DO SOL" DE TOMASO CAMPANELLA).


Explico.


É bastante curioso como em muitas obras nas quais se delineiam os traços do que seria uma cidade ideal, a eugenia se faz ostensivamente presente, assim como o detalhamento dos procedimentos para que a cidade gere para si mesma a melhor prole possível. É assim na "República" de Platão, é assim na bela "A Cidade do Sol" (1602) de Tomaso Campanella.  Essa última recebe do próprio autor, também, a denominação de "Diálogo Poético", uma vez que todo o texto é desenvolvido através de um diálogo entabulado entre um "hospitalário" (Cavaleiro da Ordem Hospitalária) e um marinheiro genovês (que teria conhecido a "Cidade do Sol" em seus périplos). A obra dedica várias de suas passagens a questões ligadas à procriação e à condição feminina na cidade ideal. Como as melhores "reprodutoras" seriam mulheres vivazes, coradas, fortes, altas e belas, quaisquer "truques" e ilusões de ótica  que viessem a ludibriar os preceptores e mestres aos quais caberiam organizar as conjugações de corpos na forma ideal, seriam apenados, inclusive com a pena máxima, a capital. Afinal, uma mulher que fosse, em verdade, baixa, pálida e sem viço prejudicaria a compleição da prole a ser oferecida à cidade ideal...


O fato é que nem a cidade ideal é a ideal para as mulheres...




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