quarta-feira, 9 de março de 2022

ALEXANDRA KOLLONTAI

ENTRE A CONQUISTA DE DIREITOS E AS "NECESSIDADES MATERIAIS"

REFLEXÕES A PARTIR DO CASO DE ALEXANDRA KOLLONTAI






Em 2017 comemorou-se o centenário de uma revolução crucial: A Revolução Russa de 1917. Falarmos sobre a Revolução Russa não significa fazermos apologia do comunismo ou de quaisquer ideologias governamentais, mas falarmos sobre lutas por direitos que têm sido encetadas pelas minorias no decorrer do séc. XX e que encontraram e encontram dificuldades em serem consolidados nos mais diversos regimes políticos, inclusive no próprio comunismo. 

Em se tratando de lutas de gênero, escolho aqui, fazer uma homenagem à Revolução Russa através da imensa feminista, ALEXANDRA KOLLONTAI. Alexandra, nascida em berço oligárquico-latifundiário, abandonou suas origens nobiliárquicas e agregou-se à luta dos trabalhadores, tendo sido uma intelectual autodidata, uma vez que lhe fora cerceado o direito à plena educação. Foi ativíssima militante comunista durante toda a sua vida, havendo integrado o grupo que lutou e conseguiu, logo após a Revolução Russa de fevereiro e outubro de 1917, a decretação das seguintes Leis, já em 1920: Descriminalização do aborto em quaisquer circunstâncias, divórcio e a possibilidade de uniões erótico-afetivas livres. 

A Rússia foi o primeiro país do mundo a descriminalizar o aborto em 1920. Em razão de problemas econômicos e em decorrência da pressão da ala mais conservadora dos bolcheviques, esses direitos passaram por mitigações, chegando Alexandra a sofrer um "exílio branco" ao ser enviada para fora da Rússia em "missão diplomática". Com a ascensão de Stálin, esses direitos foram mais e mais desafiados e houve um franco retrocesso em muitas conquistas das mulheres. Militante do Direito e do Amor, Alexandra, dentre outros livros, escreveu a "Autobiografia de uma Militante Comunista Sexualmente Emancipada". 

Todos esses fatos têm muito a nos ensinar e nos leva a fazermo-nos, principalmente, as seguintes indagações: O quanto as liberdades e os direitos podem ser cerceados em nome de alegadas conquistas econômico-materiais? O quanto essa contradição existe, de fato? O quanto ao ser essa escolha lançada como uma "Escolha de Sofia", existe subjacente à essa dicotomia uma verdade mais profunda que é mascarada por essa binariedade, tal como uma irresponsabilidade quanto à elaboração de políticas públicas que preservem os direitos e as liberdades alcançadas?

 Isso é urgente, não apenas para entendermos o que ocorreu após a Revolução Russa quanto aos direitos sociais e das minorias originalmente conquistados, mas para, principalmente, entendermos e nos questionarmos sobre a procedência atual em abrirmos mãos de conquistas sociais e de direitos individuais em nome de uma eventual "necessidade material". Não se trata de alçarmos a bandeira vermelha, mas de assumirmos que o nosso sangue é vermelho e o quanto estamos dispostas e dispostos a oferecê-lo em sacrifício do que nos esmaga e nos oferece em troca, tão somente, a face exangue da palidez.

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