MISS UCRÂNIA CONVOCA SEUS COMPATRIOTAS PARA A LINHA DE COMBATE
"Certa vez, uma mulher que havia sido piloto recusou-se a se encontrar comigo. Por telefone, explicou: “Não posso… Não quero lembrar. Passei três anos na guerra… E, nesses três anos, não me senti mulher. Meu organismo perdeu a vida. Eu não mens-
truava, não tinha quase nenhum desejo feminino. E era bonita…
Quando meu futuro marido me pediu em casamento… Isso já em Berlim, ao lado do Reichstag… Ele disse: ‘A guerra acabou. Sobrevivemos. Tivemos sorte. Case comigo’. Eu queria chorar. Começar a gritar. Bater nele! Como assim casar? Agora? No meio de tudo isso — casar?
No meio da fuligem preta, de tijolos pre-tos… Olhe para mim… Veja em que estado estou! Primeiro, faça de mim uma mulher: me dê flores, flerte comigo, diga palavras bonitas. Eu quero tanto isso! Esperei tanto! Por pouco não bati nele… Queria bater… Uma de suas bochechas estava queimada, vermelha, e eu vi que ele tinha entendido tudo: desciam lágrimas por essa bochecha. Pelas cicatrizes ainda recentes… E eu mesma não acreditei que estava dizendo: ‘Sim, eu me caso com você’."
Svetlana Aleksandrovna Aleksiévitch (Escritora russa nascida na Ucrânia) in
A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER.
*
Foto de Anastasia Lena, Miss Ucrânia 2015, que está convocando os seus COMPATRIOTAS para a linha de Combate na Guerra em 2022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário