domingo, 1 de agosto de 2021

JOVENS ADULTOS: QUANDO É HORA DE TIRAR A CHUPETA?




O que significam as recentes fotos, estampadas na mídia, com adultos chupando chupeta? É preciso respirar fundo para continuar a tratar do tema...
Já havia ouvido falar sobre as dificuldades de se "tirar a chupeta" de uma criança que não mais é um bebê, mas o problema parece ter chegado a um paroxismo nas novas gerações que acusam sentirem "vergonha alheia" das antecedentes, alcunhando-as de "cringe". Jovens dessa mesma geração estão fazendo uso de chupetas, fraldas e mamadeiras, além de infantilizarem as suas linguagens, a fim de se "terapeutizarem" e enfrentarem medos, dores e traumas. Dentre esses jovens de chupeta estão "influencers" com cerca de 300.000 outros jovens seguidores no Instagram.
Para iniciar o debate, parto do princípio de que todos nós das gerações anteriores, pais, mães, educadores, professores, sociedade, temos responsabilidade direta nesse fenômeno que me parece resvalar na "distopia"...
O que podemos, de imediato, inferir é que aquele que se apega de forma ferrenha ao sempre "novo", também apresenta forte recusa ao amadurecimento e à assunção de responsabilidades. Fica fácil, então, entender porque é "cringe" para a nova geração, pagar boletos.
Vamos, então, agora, tentar compreender o que leva essa nova geração a ter tanta dificuldade em integrar o mundo adulto, chegando ao ponto de usarem chupeta para se terapeutizarem e no que, também, temos nisso, responsabilidades. Apresento algumas hipóteses:
1. Uma criança não amadurecer pode ser diretamente proporcional à recusa de seus pais, também, em amadurecerem. Como ser adulto se a mãe insistir em ser eternamente "adolescente"? Sabemos que a geração Y (1980-1996), pais da geração Z, é considerada a geração "selfie" por excelência e com grandes dificuldades de emancipação financeira e emocional, muito decorrente da própria crise econômica das últimas décadas. Ou seja, se os pais na faixa dos 35, 40 anos, continuam dependendo de seus próprios pais, apresentando comportamentos adolescentes, natural que os seus filhos não tenham saído da chupeta aos 15 e aos 20 anos... (Penso naquele bordão das gerações X e Y "Lute como uma Garota". Sempre o rejeitei! Ora, "Lute como uma Mulher!"
2. Pais e mães de 35 a 40 anos, ou mais (havendo muitos exemplos, também, na geração X, na dos que nasceram entre 1965 e 1980, a chamada geração MTV) que insistem em continuar na adolescência, podem, inconscientemente, desautorizarem seus filhos a amadurecerem. Se os filhos, aos 15 ou 20, continuam imaturos como bebês, os pais, por sua vez, continuam como os eternos teenagers aos 35, aos 40, aos 50 anos (não amadurecem). O fenômeno é antigo, não diz apenas respeito às gerações mais recentes, e faz lembrar-me de um conto de Machado de Assis, no qual uma senhora, no afã de ser uma eterna jovenzinha, não podendo evitar o casamento da filha, o que a envelheceria, ao se tornar avó, passa a ocupar o lugar da maternidade da filha, assumindo a neta como se seu "bebê" o fora. Sustento, portanto a hipótese, de que, no fenômeno atual, a dinâmica se dá de forma mais perversa, uma vez que os pais aferrados, também, em suas imaturidades, insistem que os seus próprios filhos de 20, continuem como bebês, assim, eles não "envelhecem" e não enfrentam a vida adulta... Ou seja, os próprios pais passam mensagens aos filhos para que não amadureçam a fim de que eles mesmos continuem imaturos (Deixo claro que todo esse processo, no mais das vezes, se passa a nível inconsciente).
3. A necessidade de "regressão à infância" de forma tão escancarada revela um grande sentimento de desamparo e vulnerabilidade. Digo "escancarada", porque é natural eventuais retornos, aquilo que dizemos como o que há de "eterna criança" em nós. Ter filhos não deixa de ser uma forma de revivenciar a infância, no entanto sem se tornar, novamente, uma criança. Jovens de 18, 20 a 25 anos tendo a precisão de usar chupeta denunciam um desamparo tal que nos remete a prováveis experiências de abandono na infância. Volta-se à infância a fim de serem resgatadas por aqueles que os abandonaram. Que os abandonaram afetivamente, emocionalmente. Que os abandonaram porque não foram adultos o suficiente para criarem novos adultos, para os autorizarem a serem adultos. O psicanalista Contardo Calligaris sempre dizia "Preste sempre atenção em qual é o desejo das mães: os filhos tendem a se esforçarem por corresponder-lhes".
4. Pais consumistas e materialistas que se recusam a amadurecer, tendem a terem filhos também consumistas que se recusam a sair da mamadeira e das fraldas.
5. Isso para a sociedade capitalista e a cultura do consumo é interessantíssimo, mais do que "uma mão na roda", uma mão em suas engrenagens, uma vez que são os mais jovens, os mais suscetíveis e facilmente capturados pela ânsia de aquisição de produtos de forma inadvertida e acrítica, apenas com o condão de se sentirem integrados e "aceitos". Consumir determinados bens, mesmo que supérfluos e dispensáveis, pode lhes garantir uma sensação de autovalorização e conforto emocional. Para o capital, isso é ainda melhor pelo fato de que essa sensação é sempre transitória, urgindo-se então, que haja mais e mais consumo através da sacralização do "novo" e rejeição imediata ao "velho", ainda que o velho seja um novo recente. Manter a necessidade do novo e a forte rejeição ao "ultrapassado", é primordial para o azeitamento e funcionamento "non-stop" da máquina consumeirista.
Muitos dessa geração largada às telas dos celulares e outros "gadgets", que xingam seus pais e outros mais velhos de "cringes", para além de serem reféns do consumismo, provavelmente, estão exercendo o sabor da doce "vingança", uma vez que os bens materiais nunca serão suficientes para compensar os afetos e a segurança que deveriam ter sido propiciadas pelos pais maduros que não tiveram.
Enfatizo que tudo sobre o que discorri são hipóteses a serem confirmadas ou negadas. Mas, algo é certo: devemos pagar o nosso quinhão no que contribuímos para essa geração de largados às fraldas e às chupetas. Para os seus sentimentos de profunda vulnerabilidade e desamparo. Sob pena de que os atuais jovens de mamadeira, pulem a idade adulta e aterrissem direto na idade idosa empurrados em carrinhos de bebê.

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