segunda-feira, 25 de abril de 2016

                                        Mulher do Lar x Mulher do Bar
                                                  Andrea Almeida Campos




Durante muitos anos participei do movimento de mulheres ativamente. Recolhi-me nos últimos anos, mas vejo como o discurso feminista no Brasil anda atrasado e sectário. Enquanto em países do norte, como a França e a Dinamarca, as mulheres lutam pelo direito de voltarem ao lar a fim de melhor criarem seus filhos e, inclusive, economizarem nos gastos familiares (vide artigo francês: http://www.canalvie.com/famille/vie-de-famille/defis-de-parents/prendre-la-decision-d-etre-une-mere-au-foyer-1.1046251), nós ficamos com esse discurso ultrapassado e ingênuo, binário, politicamente manipulável e masculino de mulheres "do lar" x "mulheres do bar". 

Explico-me. Se as mulheres saíram de seus lares para trabalharem fora, o fizeram não por um movimento puramente emancipatório, respeitada a luta das mulheres combativas e revolucionárias, mas muito porque os homens as deixaram que assim o fizessem, mormente em razão da revolução industrial e durante as duas grandes guerras mundiais no século XX. Tanto que, após as guerras, havia uma forte campanha do retorno da mulher à sua mais louvável posição: a de rainha do lar. Ou seja, às mulheres foi permitido trabalhar fora e ter uma carreira a fim de ajudar as despesas do lar cujo marido provedor não mais tinha condições de, sozinho, arcar: ou por terem ido pra guerra ou porque os seus salários não mais eram suficientes para manter a qualidade de vida da família. Tanto que, ainda hoje, muitos homens se ufanam de suas mulheres "não precisarem trabalhar". 

Logo, a mulher deixou de ser, exclusivamente, "do Lar", mas continuou a ser uma mulher "para o Lar", pois é em razão das contas do lar que esse trabalho é, primordialmente, justificado. Ocorre que, se a mulher passou a trabalhar fora para, no mais das vezes, ajudar o seu marido com o sustento da família, esse mesmo marido não passou a ajudá-la com os encargos do lar, quais sejam, os trabalhos domésticos, ficando a mulher com a tão alardeada "dupla", quiçá "tripla", jornada de trabalho. Essa situação se agudiza ainda mais quando essas mulheres são mães solteiras ou separadas, as auto-aclamadas "pães" (soma de pai e mãe). Qual o resultado atual desses estado de coisas? Mulheres assoberbadas, adoecidas, estressadas, psiquicamente e fisicamente sequeladas. Por sua vez, os hoje adolescentes e jovens adultos reclamam cada vez mais da ausência materna que se soma à tradicional ausência paterna com todas as consequências psíquicas e físicas também nefastas daí decorrentes. 

Muitas mulheres, então, em vários países, como aqui já foi dito, lutam por esse retorno ao lar, demandando, inclusive por subsídios estatais para essa atividade que, desde os gregos, sempre foi da mais alta relevância: a de criar e educar cidadãos. Claro que a discussão sobre as mulheres que são cerceadas de terem uma vida profissional, impedidas, inclusive, por seus pais e maridos já é um outro assunto. Portanto, antes de começarmos quaisquer discussões minimamente sérias sobre "a mulher do lar x a mulher do bar", é bom, ao menos,  lermos um pouco sobre o assunto e atualizarmo-nos, antes de sermos capturados por discursos que, mais uma vez, vilipendiem a mulher nas suas opções de viver plenamente as possibilidades oferecidas pela sua condição feminina.



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