terça-feira, 19 de abril de 2016

                                                     Aquarela Brasileira
                                                                                Andrea Campos





Confesso que ao acompanhar diuturnamente a leitura do Relatório na Comissão Especial do Impeachment que levou à votação pela admissibilidade do processo contra a atual Presidente da República no Brasil, senti um grande estranhamento quanto à postura de nossos parlamentares.  Constatei que os nossos parlamentares estavam mais para crianças do jardim de infância do que para homens e mulheres graves, como eu esperava. Depois, refleti que ali não estavam simplesmente os parlamentares, mas todo o povo brasileiro que com eles se identifica, essa nossa sociedade hipercomplexa e mais do que nunca, visivelmente fragmentada. O Parlamento nos representa tal como somos e não como desejaríamos que  fôssemos. Se o Poder Judiciário e o Ministério Público fossem compostos por voto popular, teríamos a mesma cena e as mesmas impressões. Os nossos juízes e os nossos promotores seriam tal e qual os nossos Deputados. Concordaria eu, então, com Platão e Aristóteles no que são desfavoráveis à democracia? Terminantemente, não. Confio na vontade popular. No seu jeito debochado e, por vezes, até mesmo achincalhado, consegue dizer a que veio e o que quer. Muito se tem criticado os Deputados por falarem em família e em Deus como fundamento de seus votos com vistas à admissibilidade ou não para o processo do impeachment. Pedirem a Deus misericórdia pelo Brasil foi a perfeição. Acho, então, esse estranhamento plausível, apenas para quem não conhece o que é o Brasil, e não vejo o ato como inerentemente ligado à uma cultura de corrupção, mas sim aos nossos valores que, mais do que valorizarem a pólis, valorizam a família e a religião. Certamente, os deputados ao os citarem, estavam querendo transparecer que nos seus votos estavam em jogo a felicidade ou a infelicidade daquilo que para a grande parte dos brasileiros é o que existe de mais sagrado: A família. E a família sob o temor a Deus. Algo como dizer que "Juro por Deus ou Juro pelo meu pai, pela minha mãe, pelo meu filho, etc, etc,  de que esse meu voto é o melhor para o Brasil, pois se algo acontecer de ruim em razão dele, as pessoas que mais amo serão as primeiras a sofrerem os seus impactos e Deus que nos tenha misericórdia. O Fundamento jurídico quanto à ilicitude ou não dos Decretos e das Pedaladas Fiscais que fiquem ao arbítrio da Justiça".  Enfim, a nossa cultura não é grega, é romana. É brasileira. E o nosso Parlamento, definitivamente, não é pra Inglês ver.


Parlamento Inglês

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